Mitologias

O dilúvio de Maloloa

O sogro Maloloa foi visitar os genros no mundo dos homens, disfarçado de velhinho usando bengala. O primeiro genro perguntou: “você não está trazendo nada perigoso para nossa casa?”. Maloloa respondeu que não, “só que ninguém pode falar mal de mim. Se alguém falar mal de mim, minhas artes podem ser perigosas para vocês”. Os dois genros o trataram muito bem, com respeito e consideração, dando os presentes mais especiais, redes novas, cocares de gavião real, muita macaloba boa e comida saborosa. E explicaram para seus parentes da aldeia que estavam recebendo uma visita muito especial, o senhor Maloloa. A reação dos parentes foi péssima: “Quando os parentes viram no Goján um velho feio, sujo, malcheiroso, resmungaram: - Eh, lá vem o velho, todo sujo, como está mal”. Goján, muito triste com essa situação, informou aos genros que deveriam subir com suas mulheres e filhos nos pés de buritis que ele havia plantado dentro das malocas, pois ele iria provocar a alagação daquele lugar. E foi o que aconteceu. Do céu, Goján trovejou forte. Veio muita, muita água. Encheu os rios, inundando as aldeias. Os que não eram genros dele viraram bichos, viraram lontra, ariranha. Muita gente morreu. As filhas e os genros do Goján salvaram-se, pois para os dois genros ele avisara para subirem no galho dos buritis que iam nascer. Aquele povo morreu tudo porque não tinha pra onde subir, pra se esconder da água. Assim aconteceu com Maloloa. Hoje tem muito mar e rio grande por causa disso, naquele tempo não tinha rio ainda não. Por isso hoje nós respeitamos Gojánéhj, ele pode alagar a terra pra matar todo o povo. O chefe dos Gojánéhj é Maloloa, o cacique, depois vem a comunidade, os Gojánéhj, Ele que vem tomar macaloba junto com os Ikólóéhj na festa, não é ele que dança e nem toca flauta, é a comunidade dele, são os Gojánéhj. Ele, Maloloa, o Goján, é que conversa com o pajé. Esse Maloloa é que nasceu da barriga da mulher, que deu o milho, que fez a roça pra mãe e foi morar no mar. Os Gojánéhj pequeninos moram nos igarapés. Só quem pode ver é Zagapóhj junto com pajé. [...] Não foi depois do branco que a gente soube da existência do mar, nós já conhecíamos a história do mar há 10 mil anos, é coisa que a gente admira, todo lugar tem, né. Aí ahistória acabou, essa alagação e teve muita água. [...] A gente não pode tratar mal nada e nem fazer besteira quando é o tempo dos Gojánéhj festejar junto com Ikólóéhj. (Narrativa de Catarino Sebirop).

Posted in mitologias on Dec 12, 2019