Atividade de coleta da castanha
Por Josias Gavião e Lediane Fani Felzke
A castanha do Brasil ou o Mav Gahv, como os Gavião a chamam, faz parte dos hábitos alimentares de muitos povos indígenas. Cada povo tem a sua própria maneira de preparar a sua alimentação com a castanha. Alem de ser importante alimento, há um grande respeito pelo ser espiritual dono desse recurso natural que se chama Gorá, pois para os Ikólóehj, tudo aquilo que existe na natureza tem dono. Com o contato veio então outra perspectiva de vida, novas necessidades foram surgindo e para atendê-las os Ikólóehj passaram a comercializar a castanha. Inicialmente este comércio era realizado através de atravessadores, mas geralmente o preço pago não era justo pois os atravessadores davam pouca coisa em troca da produção. Muitas vezes os castanheiros ficavam devendo. Preocupados com essa situação, os Gavião criaram a Associação Indígena Zavidjaj Djiguhr (ASSIZA) para intermediar essa atividade de comércio. A ASSIZA iniciou suas atividades buscando parcerias para implementar um comércio mais justo. Atualmente a principal parceira é a entidade.
Pacto das Águas que veio somar com os Gavião para o fortalecimento da cadeia produtiva de castanha e também da borracha. Através dessa parceria, a ASSIZA conseguiu acessar o recurso da CONAB (Conselho Nacional de Abastecimento) para comercializar a castanha da Terra Indígena em condições mais vantajosas para a comunidade, livrando-se do atravessador. A coleta da castanha é, atualmente, a principal fonte de renda acessível a todas as famílias da aldeia. Homens, mulheres, jovens e crianças participam. As famílias acampam durante os meses de novembro e dezembro no interior da floresta, distantes das aldeias de origem, para coletar castanha. Mas não só! Para os jovens e crianças, estes são momentos preciosos de aprendizagem. O mais velhos repassam seus conhecimentos e sua sabedoria. Andar no mato, conhecer as plantas, retirar fibra, reconhecer e retirar copaíba, caçar, construir tapiris, pescar com gongo, usar e tecer a palha do babaçu, tirar mel, moquear caça, cantar, ouvir histórias, são importantes conhecimentos repassados durante a coleta da castanha.
Além disso, essa atividade é um importante instrumento de autonomia das mulheres indígenas. Várias delas coletam castanha independente dos maridos e com isso adquirem renda própria que é utilizada para comprar os bens de consumo desejados: roupas, móveis, fogões. Mesmo aquelas que coletam castanha junto com suas famílias, influenciam na escolha de onde o dinheiro será investido.
Das atividades produtivas implantadas junto aos Gavião, a castanha é a que tem se mostrado mais adequada para atender as demandas da comunidade, ao mesmo tempo que respeita os traços culturais e valoriza aspectos do estilo de vida tradicional. Paralelamente, tem permitido às mulheres conquistar autonomia financeira.