Gorá depois de ter criado o mundo, deixou gente dentro da rocha. Não tinha como deixar sair esta gente. Juntaram-se muitos pássaros que tinham bico duro para poder abrir o buraco para as pessoas saírem. É assim que começou o povo da rocha. Saiu muito índio – Zoró, Suruí, Cinta Larga... Muitos bichos vieram ajudar. Vieram kìhnéhj, kasáhléhj, periquitos, araras. Veio o mutum. Estes não tinham coragem suficiente para furar a rocha. Quem furou foi o periquito, que tinha o bico mais duro. As pessoas iam saindo, sentando-se em banquinhos para se apresentar. Tinha muito banquinho, pois era muita gente saindo da rocha. Iam dizendo quem eram:
- Somos o povo Arara!
- Somos o povo Gavião!
- Somos o povo Zoró! Faziam banquinhos de madeira, igual a esses banquinhos para pajés, sentavam-se. Saíam os Iadurei, outros índios. Saiu um “branco”, Djála. Disse:
- Eu sou o “branco”, dono da riqueza. Hoje, por isso, os “brancos” são ricos. Os índios são pobres. Eram matadores de gente. Assim é que aconteceu primeiro. O casal de índios Gavião-Ikólóéhj saiu, encalhou no buraco da saída. A mulher é que ficou presa, atravancou a saída. O marido saiu na frente, e a mulher, que estava grávida, veio depois, mas ficou entalada e obstruiu a passagem. Por isso ficou gente debaixo da terra, gente que não conseguiu sair. Dizem que a rocha, com essa gente, está entre o rio Roosevelt e a cabeceira do rio Branco (MINDLIN et. al., 2001, p.150).