Gorá e Betagav viviam sozinhos no mundo, com a mãe. Betagav é quem ficava trabalhando com a mãe de Gorá, a mãe de deus, não existia outra pessoa. Betagav, um dia, pegou um filhote de jacaré para criar. Desde este dia, Betagav só cuidava do jacaré. Matava bicho, caça, nambu, não lembrava da própria barriga nem sabia se tinha fome, só preocupado com o jacaré. Gorá não gostou.
- Betagav, por que você só pensa no jacaré? Você não lembra de nossa barriga? Nós precisamos comer! Eu vou matar esse jacaré, você vai lembrar de nossa barriga, você vai lembrar de nós! Betagav não gostou nada da ameaça:
- Gorá, se você matar meu jacaré, nós vamos nos separar, eu não vou mais viver e trabalhar com você. Gorá não acreditou que Betagav estivesse falando sério. Matou o jacaré. Betagav ficou desconsolado.
- Por que você fez assim? Temos que nos separar. Pronto, você matou meu jacaré, eu vou mudar para o sul, você vai para o norte. Gorá foi para o norte, para a foz do rio, e Betagav foi para o sul, para a cabeceira do rio. Gorá falou para Betagav:
- Betagav, nós temos que nos visitar, como nuvens. Eu vou ver você e você a mim, só que nós não vamos conversar. Nós vamos lembrar um do outro como nuvens. Por isso é que hoje em dia, de tardezinha, quase ao por do sol, aparecem nuvens ao norte e ao sul. É Gorá que está vendo o irmão. [...] Betagav e Gorá já não tinham mais nada que fazer, já tinham trabalhado, já tinham criado tudo. Gorá não casou. Não tinha mulher (MINDLIN et. al., 2001, p.157,158).